Monday, June 18, 2007

Resumos (6)

Resumo da apresentação de Nuno Domingos, "A narrativa do futebol português em Moçambique durante o período colonial" (17 ABR 2007).

Esta apresentação procurou reflectir sobre a presença contemporânea do futebol português na “cultura popular” quotidiana em Moçambique, nomeadamente na cidade de Maputo. Procurou-se perceber a actual popularidade dos clubes portugueses na capital moçambicana, observada num conjunto significativo de factos, recorrendo a uma análise histórica que examinou as principais formas de introdução da “narrativa do futebol português” no território durante o período colonial. Reflectiu-se ainda sobre o significado social desta “herança colonial”, argumentando-se que as suas funções sociais devem ter uma primazia de análise sobre alegações de tipo político, que muitas vezes falham em compreender os fundamentos que sustentam a herança do futebol português em Moçambique.

Wednesday, June 06, 2007

Resumos (5)

Resumo da apresentação de Tiago Baptista, "Mulheres de magazine": a nova mulher e a cultura comercial urbana no início do séc. XX" (22 MAI 2007).

Resumo
Nos anos dez e sobretudo nos anos vinte, a “mulher moderna” (citadina, alfabetizada, burguesa) foi associada ao centro da vida cultural, comercial e de entretenimento da cidade – o Chiado. A descrição da mulher e destes (novos) espaços da cidade favoreceu e operou uma activa sobreposição metafórica da mulher e da cidade, ambas tornadas índices da modernidade lisboeta, referidas a modelos estrangeiros (acima de tudo, Paris – embora a referencia da nova mulher seja cada vez mais a mulher americana e sobretudo a actriz americana). As descrições dessa nova mulher, nesse velho espaço geográfico, fizeram-se através de novos meios, chegando por isso a cada vez mais pessoas – sobretudo o magazine, a crónica, a ilustração; depois o teatro, a literatura, e até o cinema. Estes meios e estas descrições pareciam apontar para uma cada vez maior visibilidade de um novo tipo feminino naquele (limitado) espaço público, num processo que parece ser possível associar ao desenvolvimento, contemporâneo, de uma nova cultura comercial urbana também ali concentrada.

A “mulher magazine”, “mulher cinema” e a própria espectadora das salas de cinema lisboetas, que surgem destes textos, descrições e destas imagens literárias tinham no entanto pouca realidade sociológica. Talvez estejamos por isso diante não tanto de uma transformação social efectiva – a emancipação das mulheres pelo trabalho, pelo consumo ou pelo lazer, a transformação do seu papel tradicional de filha, esposa e mãe no novo papel de mulher autónoma, independente, sujeito desejante cujas paixões e comportamentos que simultaneamente seduzem, atemorizam e desconcertam os homens – mas antes diante de uma construção cultural poderosa capaz de iludir a realidade e de agir sobre ela: levando a crer que tal mulher e tal cidade existiam de facto da Lisboa dos anos dez e sobretudo dos anos vinte.

A mulher moderna (ou melhor, modernista) foi a construção cultural que tornava possível a ambivalência no seu estatuto público: ela era constituída enquanto puro objecto do olhar e do desejo masculino mesmo quando lhe era facultado o acesso aos (novos) lugares públicos de uma cultura comercial urbana sob a premissa de que neles ela seria um sujeito desejante. Só assim se compreende como as mulheres fazendo compras numa loja ou num grande armazém, clientes numa casa de chá, ou espectadoras numa sala de cinema – tudo posições que faziam delas ostensivamente o sujeito desejante nos contextos de uma cultura comercial urbana – acabassem sempre descritas como figurinos, como mulheres fatais, como personagens de um filme, isto é, sempre como objecto do olhar e do desejo masculino.

A mulher moderna foi assim a construção cultural que por excelência permitiu fazer modernidade num país que não a tinha. Modernizar a mulher era modernizar a cidade e com ela a cultura portuguesa do inicio do século XX.

Neste processo, o papel tradicional da mulher parecia muitas vezes ameaçado por novos hábitos que de facto existiriam mais naquelas construções culturais da mulher moderna do que naquela sociedade. Por um lado procurava-se combater a modernidade e defender um modelo feminino tradicional; mas por outro lado, era por ali mesmo que se criava a percepção da mudança de mentalidades e das novas aspirações femininas. O que está aqui em causa é o agitar do fantasma da massificação de uma nova cultura material no esforço conservador de limitar os seus efeitos em Portugal.

Bibliografia
Alice Samara, Operárias e Burguesas. As Mulheres no tempo da República, Lisboa: Esfera dos Livros, (no prelo).
Anne Friedberg, Window Shopping. Cinema and the Postmodern, Berkeley; Los Angeles; Londres: University of California Press, 1993.
António Ferro, A Leviana. Novela em Fragmentos, Lisboa: H. Antunes - Editor, 1921.
António Ferro, As grandes trágicas do silêncio, Lisboa: Monteiro & Companhia, 1917.
Carlos Frederico, Os escândalos dos cinemas, Lisboa: s.n., 1930.
Erika Diana Rappaport, Shopping for Pleasure. Women in the Making of London’s West End, Princeton; Oxford: Princeton University Press, 2000.
Irene Flunser, Pimentel, História das Organizações Femininas do Estado Novo, Lisboa: Temas e Debates, 2001.
José-Augusto França, Os anos vinte em Portugal. Estudo de factos sócio-culturais, Lisboa: Presença, 1992.
Lauren Rabinovitz, For the Love of Pleasure. Women, Movies, and Culture in Turn-of-the-century Chicago, New Brunswick; New Jersey; Londres: Rutgers University Press, 1998.
Luis Trindade, O estranho caso do nacionalismo português. O salazarismo entre a literatura e a política, Lisboa, 2005 [tese de doutoramento em História Cultural Contemporânea, FCSH-UNL]
Margarida Acciaiuoli; Helena de Freitas (org.), O Grafismo e a Ilustração nos anos 20, Lisboa: CAM/FCG, 1986.
Maria de Lourdes Lima dos Santos, Para uma sociologia da cultura burguesa em Portugal no século XIX, Lisboa: Presença/ICS, 1983.
Mário Gonçalves Viana, Da sugestão no animatógrafo: estudo social, psicológico e crítico original, Lisboa: ed. do Autor, 1921.
Miriam Hansen, Babel and Babylon: spectatorship in American silent film, Cambridge: Harvard University Press, 1991.
Paulo Guinote, Quotidianos femininos: 1900-1933, Lisboa: s.n., 1997.
Victoria de Grazia, Le donne nel regime fascista, Veneza: Marsilio Editori, 2001 [1ª ed. inglesa, 1992]

Friday, June 01, 2007

SESSÃO DE ENCERRAMENTO : 5 JUN 2007 - 18H

"Povo, Massas, Públicos": definições e debates.
com Salwa El-Shawan Castelo-Branco e António Pedro Pita

O II Seminário de Investigação "Cultura de Massas em Portugal no Século XX" chega ao fim na próxima terça-feira, dia 5 de Junho, com uma sessão especial de encerramento que terá lugar no Anfiteatro 1 da Torre 1 da FCSH/UNL (1º piso, junto à biblioteca), às 18h.

Nesta sessão, Salwa El-Shawan Castelo-Branco (FCSH/UNL) e António Pedro Pita (CEIS20/FLUC) irão reflectir sobre alguns dos conceitos e das questões chave que foram discutidos ao longo do ano no seminário. Ainda serão os conceitos de "cultura de massas" e "indústrias culturais" operativos e explicativos? Quando é que o "povo" se tornou um "público", e quando é que este passou a ser percepcionado como "massas"? A partir de quando, e porquê, é possível falar de "indústrias culturais" e de "cultura de massas" em Portugal? As "indústrias culturais" dirigem-se a indivíduos, a públicos, ou a consumidores? Poderão os públicos negociar a recepção dos produtos das "indústrias culturais", ou estarão eles limitados a ver os seus gostos, desejos e prazeres serem inteiramente determinados por aquelas? Serão os "públicos" e a própria "cultura de massas" a verdadeira ideologia das "indústrias culturais", como sugeria Adorno?

Salwa El-Shawan Castelo-Branco foi professora e fundadora do Mestrado em Etnomusicologia Urbana na New York University (1979-2001). É professora catedrática no Departamento de Ciências Musicais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa (UNL) desde 1982, tendo sido coordenadora do Departamento de 1984 a 1988 e de 1995 a 1997. É fundadora e directora do Instituto de Etnomusicologia(FCSH-UNL) desde 1995 e presidente da Associação Portuguesa de Musicologia desde 1996. Foi Vice-Presidente do Conselho Internacional de Música Tradicional (UNESCO) de 1997 a 2001 e membro da Comissão Directiva do mesmo organismo internacional de 1984 a 2001.

António Pedro Pita, doutorado em Filosofia Contemporânea, é Professor Associado do Instituto de Estudos Filosóficos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, director da Sala de Estudos Cinematográficos e docente da Licenciatura de Estudos Artísticos. É investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX no âmbito do qual coordena o grupo de investigação "Correntes Artísticas e Movimentos Intelectuais". Faz ainda parte do Conselho Científico do Instituto de Estudos Ibéricos e é actualmente o responsável pela Delegação Regional de Cultura do Centro.